Neoliberalismo no ralo

Junho 1, 2009

Não é questão de ser invisível, ela simplesmente não existe. A mão de Adam Smith e o neoliberalismo mostraram-se ineficientes. Impossível existirem Estados que deixem o mercado regularizar o próprio mercado. É querer confiar no senso de civilidade dos seres-humanos, e se pudéssemos confiar nos seres humanos – que teoricamente são seres éticos – não seria necessário existir leis para manter a ordem. “O homem é o lobo do homem”, e ele prova isso também na economia.

O atual modelo de capitalismo, como todos já sabem, está em declínio. Já cansamos de escutar a palavra “crise”, mas essa não se trata de mais uma crise sazonal que faz parte da história do capitalismo; muito mais do que isso, trata-se da prova do fim de pensamentos como o tatcherismo.

Aliás, justamente a filosofia de privatizações excessivas e desregulamentação da economia, somada a uma direção tomada para o setor financeiro – deixando a indústria em segundo plano – coloca hoje a Grã-Bretanha em maus lençóis: a economia britânica deverá ter uma retração de 4,1% neste ano (uma das piores previsões na Europa).
A “virtualização” do capital no setor financeiro é problemática. Trate-se do capital inflando de tal maneira que se torna insustentável. Como cobrar dívidas sobre um capital que na prática não existe? Valor de mercado? Valor irreal. Deixar a economia crescer dessa forma é irresponsável. Quando chega a fatura, a merda explode.

Já se falou em capitalismo com “compaixão”. Obviamente é uma metáfora, pois não se pode confiar em sentimentos. Não é uma defesa a uma nova tentativa de instaurar o socialismo, mas a uma regulamentação nunca antes feita na economia – algo que através das medidas tomadas pelos líderes mundiais não vem acontecendo. Alguns defendem o fim do Bem-Estar Social, que já vem diminuindo, e, quando se fala em diminuição do Bem-Estar é o mesmo que falar em diminuição de direitos do cidadão. O Bem-Estar Social é imprescindível, mas para sustentar a imensa máquina do Estado que concede tantos direitos como a previdência, é preciso que o mesmo entre na economia. O Estado na economia não é ruim por essência, é ruim graças à corrupção e à burocracia, que torna a máquina lenta e incompetente.

Bom, até que estão tentando “consertar” o mercado. Mas como? Pegando o capital do Estado, o bem público, e injetando em bancos e empresas em decadência. É o dinheiro público sendo direcionado para o patrimônio particular, para que no futuro tais empresas e bancos continuem lucrando com o consumo irracional e juros monstruosos. O dinheiro público está servindo para sustentar um modelo que prega o não envolvimento do Estado na economia. Parece piada, mas não é. É apenas uma mobilização mundial para tapar o sol com a peneira.

Agora veio a prova irrefutável do caos do neoliberalismo: “‘Quebra da GM teria sido um desastre’, diz Obama. Montadora receberá mais de US$ 30,1 bilhões do governo dos EUA. Governo americano terá 60% da empresa e o canadense terá 12%”. (Fonte: globo.com) O Estado passa a ser o sócio majoritário daquela que já foi a maior montadora do mundo. Seria essa a saída do meio-termo? Nem mão invisível e nem empresas por completo na mão do Estado? Até agora se trata apenas de evitar que a débâcle tome conta dos Estados Unidos.

Daqui por diante cabe a representantes do povo, como o Sarkozy, tirarem da cabeça a diminuição do Bem-Estar Social, e, não darem simplesmente o dinheiro daqueles que seriam prejudicados com tal diminuição para grandes investidores decadentes. É preciso mudar as engrenagens da economia mundial. Taxar os lucros de capital a curto prazo, conter os juros absurdos – o que nem sempre resulta em inflação – mas sem afrouxar tanto os critérios de concessão de crédito. Pode-se fazer muito. Não sou economista. Mas quem passou a vida estudando isso bem que poderia pensar um pouco menos em como ficar rico e levar em conta a eficiência geral. Afinal, economia não se baseia apenas em números, é também direcionada por aspectos humanos.

3 Responses to “Neoliberalismo no ralo”

  1. Ricardo Rocha Says:

    “…economia não se baseia apenas em números, é também direcionada por aspectos humanos.”
    Terminou muito bem.
    Estamos à beira, ou dentro, do caos. Soluções reais nunca são dadas, apenas o “maquiamento” de rombos e falhas (astronômicos).
    Qual será nosso destino? Qual será a solução para a desordem geral? Anarquismo?

  2. waleska Says:

    Politica, economia, cultura, povo, poder. Tudo junto, tudo misturado, bagunçado. Quanta coisa chata. Mas imporante.Tenho experiência nisso (mesmo que em um grupo social muito polêmico), mas que já derrubou presidente, mudou, de certa forma, a economia dentro de um clube e, a transparência dentro dele. Clube esse, como patrimônio público. Aristóteles já dizia que Aristocracia é o poder confiado nos melhores cidadãos, seja rico ou pobre, de sangue azul ou nao. Por isso para o Bem-estar Social, só a renovação vai nos ajudar. Só um cidadão digno. E há poucos desse tipo para o poder. Saí do tema? É porque eu não gosto desse assunto. Mas adoro esse blog e o modo como vcs escrevem. Parabéns!


  3. Pois é. Os padrões não apenas economicos mas também sociais, políticos e culturais como conhecemos devem ser mudados, para a melhor.
    Quem está disposto ? Alguns. Comparado com o passado, eu diria até que muitos. Cada dia um a mais.


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